Jun 15, 2011

Paint the silence and warm the bed

A janela continua embaçada e eu tento esboçar infortunadamente um sorriso contra o vidro. Ainda posso ver seus passos lá fora sendo apagados pela chuva que chegou sem querer impossibilitando-me assim de ir atrás de você. Seperteando as labaredas do destino eu virei a curva da percepção buscando por um momento em que talvez tudo pudesse voltar, segurando nossa foto em preto e branco e nada mais do que essa visão enche meus olhos. Ao sul ouço o som da sua voz porém fraca demais para deduzir o que me é dito. E aceitar que você se foi assim tão cedo é ainda um portento para mim e talvez nessa navegação que está longe de acabar eu terei de me jogar ao mar e ao canto de sereias que irão me afogar no mar do esquecimento para que de alguma forma eu possa te deixar. Mas quando penso que tudo está perdido eu me seguro forte no mastro que alinha os ventos eminentes que querem me ver cair. Desenho um coração no embaçado a minha frente e segundos depois ele se derrete. Algo mais para lembrar de você já que todas as nossas canções, abraços e beijos você levou para um lugar onde tudo deve ser jogado no canto de baús velhos e empeirados. Os lençóis eu mantenho quentes e a essência deixada para trás eu procuro olfatar o máximo possível. Levanto-me sem forças e mais uma vez tento me segurar em algo que imite sua base forte de segurança mas ao invés do seu corpo cálido e uniforme encontro o frio do metal da cadeira antiga com almofadas que você costumava se sentar. Caminho lentamente pelo corredor que me leva para o final de longos pensamentos que percorrem as minhas veias geladas sem emoção. A água quente bate no topo da cabeça e aquece meu rosto mesclando as gotículas doces com salgadas que saem involuntariamente do meu lacrimal. Eu poderia perder o desejo por você, mas eu não quero. Espero ansiosamente pelas suas três batidas na minha porta e um beijo infindável que tem fim logo em seguida. Pois descobri que o inverno aqui é quente se comparado ao lado do colchão que hoje não abriga mais ninguém. Sua silhueta cresce nas paredes e eu aguardo seu beijo de boa noite, talvez para sempre, e sabe Deus quando poderei enfim dormir tranquilamente. E se não são milhas que nos separam os poucos minutos que gastaria indo encontrar você parecem travados no relógio velho do bazar em que comprei a roupa em que saímos juntos pela primeira vez e você tanto adorou. E após tudo isso ainda me questiono o por quê e se tudo tem que ser assim, frio, compassível e imutável. Porém não há respostas para tudo nessa vida e eu sigo aqui olhando a mesma janela embaçada, refazendo os passos apagados no chão e criando uma coragem inútil em talvez ir atrás de você.

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